Índios não são apenas os povos originais deste país. Estas comunidades que carregam a aura de serem os Povos da Floresta, de pensarem coletivamente, ainda trazem a centelha do que é mais primordial na vida: Ser humano. E talvez seja justamente esta essência que admiro em suas tradições, diferentes para cada etnia e cada história.
Meu primeiro trabalho com a equipe da OPAN foi com o povo Xavante de Marãiwatesédé, quase uma década atrás. Após este intenso batismo, outros povos do Cerrado e das florestas surgiram lentamente ante meus olhos que, apesar de curiosos, não se permitiam ir além do que comigo era compartilhado. Respeito é o alicerce da confiança.
No Projeto Raízes, descobri sobre a destreza pesqueira dos Paumari. Nos igapós da Terra dos Jamamadi, encontrei a força teimosa de um povo em manter suas ancestrais tradições. Nos Apurinã me alimentei da simpatia acolhedora regado a beiju e doces abacaxis. E lá nos Deni, na barranca do Rio Xeruã, fui acolhido pela enorme bondade deste pequeno povo.
O fascínio por estas sociedades tradicionais aumenta à medida que me aprofundo em suas rotinas cuidadosamente simples, às vezes incompreensível para o intelecto, mas translúcidas para os sentimentos. Criei raízes de amizades com os indigenistas que dedicam suas vidas às vidas destes povos, caminhei em trilhas invisíveis e naveguei em canoas na maior floresta tropical do mundo. Comi do peixe moqueado, da farinha crocante, do açaí verdadeiro. Vi mãos rápidas transformarem palha em delicados artesanatos. Aprendi sobre a seiva que cura das árvores, vivenciei danças e rituais na escuridão misteriosa da madrugada.
Meu desejo maior é que as mãos que agora folheiam este livro possam acariciar todos os rostos das crianças que sorriem nestas paginas, que os olhos passeiem nas histórias impressas nas fotos, e que os corações possam se purificar de pré-conceitos e imergirem na cultura e tradições destes fantásticos povos.