Em algum canto perdido da infância, encontra-se o carrinho de puxar com barbante, um jogo de futebol de tampinhas.
Em algum canto da casa está o peão que perdeu o prego de ponta, um caderno rabiscado sobre o rabisco.
Em algum canto da imaginação está o silêncio do carinho materno, que existe mas tem que ser dividido entre tantos outros da prole.
Em algum canto do desejo está aquele boneco de controle remoto, aquele lanche vendido pelo palhaço, aquela chiclete que não acaba.
Em algum canto ainda não formado da personalidade está a violência dos desenhos e a benção “dizímica” das igrejas, o pessimismo das noticias e a banalidade dos programas.
Em algum canto do presente está a esperança que aquela criança tenha vindo ao mundo trazendo algo mais, de algum outro lugar, fora do tempo e espaço.
Em algum canto do futuro está o sonho de ver aquele ser, realizado.
Sertão baiano, Brasil, 2008