Seu olhar mareja melancolia. Seu corpo, pausado no andar, emana uma história carregada de dor e lembranças castigadas por torturas, e o peso dos portões de aço só acentua um eco vazio e ensurdecedor nos ouvidos. A cada passo adentrando naqueles corredores e ao som de sua voz fraca, uma sensação de desconforto e indignação toma conta de nossas almas. Não é possível se manter imune aos sentimentos, ao inevitável pensamento do que é viver o terror em plena Terra.
Este senhor da etnia Zulu, com seus poucos 52 anos e aparentando muito mais, chama-se Thulani Mabaso. Um preso político na África do Sul, no regime do Apartheid. Passou três anos numa prisão em Johanesburgo até ser transferido para Ilha Robben onde, com apenas 19 anos, viu sua juventude ser gradeada nos longos oito anos seguintes. Tempo suficiente para deixar marcas físicas e psicológicas irreparáveis. E por mais que tentemos entender o que está por trás daquelas explicações e como foi conviver com Nelson Mandela, imaginar a vida entre aquelas paredes vai além dos limites humanos de compreensão. Se é que, depois de conhecer um mínimo da história daquele homem e de todos que viveram naquela pequena ilha, seja possível definir os limites para a insanidade humana.
Robben Island, Africa do Sul, 2015